E se você tomasse um tiro na cara?


Todos aqui sabem que eu e o Cidão somos professores na rede pública. A informação é irrelevante,  mas provavelmente vocês já leram algum tweet nosso ou algum post em que falávamos sobre os mandos e desmandos da Secretaria da Educação ou então criticávamos a postura dos profissionais, dentre os quais nos incluímos.
Sugestões de leitura antes que continue neste post:

- Feliz dia dos professores?

- Educação, bônus... E os professores são palhaços!

O buraco, no entanto, é mais embaixo. Enquanto o Governo brada aos quatro ventos que tudo está melhorando, convivemos com situações terríveis como retratado nesse post. Ano passado, numa escola particular em que trabalhei, fomos surpreendidos por uma situação adversa: um aluno levara uma enorme faca para “impor” um pouco de respeito frente aos colegas. Ele vinha sendo vítima de builling e já havíamos tomados algumas providências, mas ele não aguentou a pressão. Imagino se aquele menino de 12 anos fosse esse que cito na reportagem abaixo. Vejam:

“Com um revólver Rossi calibre 38 na mochila, o estudante de 14 anos entrou na Escola Nossa Senhora das Graças, apelido "Gracinha", 1.100 alunos oriundos de 900 famílias de classe média alta paulistana, mensalidades da ordem de R$ 1.600. Reservadamente, o adolescente retirou o artefato da bolsa e exibiu-o para cinco colegas. Também mostrou munição -de uma arma calibre 32.  (…) O revólver calibre 38 que entrou na escola brasileira pertencia ao pai do estudante. Tratava-se de uma arma legal, registrada na Polícia Civil de Mato Grosso. Estava escondida em um armário. O menino encontrou-a porque estava atrás de um cabo de computador, que os pais haviam retirado da máquina. Indo atrás do cabo, o rapaz encontrou o revólver.(…) A escola suspendeu o menino imediatamente (ele ficará em casa até que se tome uma decisão sobre sua permanência ou não no corpo discente). Também incumbiu-o de realizar um trabalho com o tema "Cultura e Educação para a Paz". O pai deu-se outras tarefas. "Domingo, mostrei ao meu filho as estatísticas de mortes por acidentes com armas de fogo [54% dos quais envolvem crianças de zero a 14 anos, com duas mortes por dia]." Na segunda passada, toda a família foi à sede da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, entregar a arma e a munição.”

Não há como fugir de um problema assim. A atitude do pai, no entanto, é correta. Mostrar o caminho e as consequências do ato do filho é o mínimo que poderia fazer diante desse problema. Isso se chama educação, pois a família fez de uma crise uma oportunidade para ensinar o próprio filho e, até, outras famílias a se portarem em situações semelhantes.
Penso, a partir disso, na realidade que vivo. Já vi alunos serem promovidos apenas para que a escola se livrasse de um traficante, pois nenhuma ação surtiu efeito. Já vi policial dizendo que nós, professores, deveríamos dar o flagrante nos passadores de drogas da escola para depois chamar os defensores da lei e da ordem. Já vi amigas professoras serem ameaçadas por adolescentes e serem coagidas no caminho pra casa…
Se a situação não é nada boa, há suas compensações, mas isso é assunto pra outro dia.

6 comentários

Este acontecimento teve um final feliz pelo nível dos envolvidos no caso. Sabemos que não é o que acontece nas escolas de periferia.
Ser professor hoje em dia é profissão de risco.
Adorei o novo template, ficou muito bom!

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Isso é porque existem pais e pais. Simples assim.

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Teve um promotor fazendo palestra na escola que trabalho dizendo que nós, por sermos funcionários públicos, podemos dar voz de prisão.
Os alunos cairam na risada...

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É por estas e por outros que sou favorável a diferenciação de alunos por dedicacao ou notas, e assim traçar políticas de ensino de acordo com o grupo formado.

Vão levantar a bandeira da discriminação e pressão psicologica sobre os alunos, mas devemos ser justos com a própria vontade e dedicação de cada uma. Ademais, a vida fora da escola premia os melhores.

Digo isto porque creio que as maças podres acabam por influenciar outros alunos e ainda atrapalhar os que querem apreender.

Nada justifica agressões, nada justifica ofensa e outras espécies violências.

A não ser que queiramos fazer de conta sob o manto da falsa igualdade e falsos números, da meta do vamos passar todo mundo...

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Vivis, o diferencial em toda e qualquer situação é realmente o nível das pessoas. seja aqui na internet ou numa sala de aula, se a pessoa é dada ao barraco, à confusão, nunca teremos paz. Concordo que é profissão de risco e esse é um dos motivos pelos quais estou buscando outras coisas.

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Felipe e Cidão, as coisas que ouvimos nas escolas são café pequeno, guardadas as devidas proporções, se comparadas ao que acontece numa cadeira. #ironia. Já vi diretor "proibindo" profesor de fazer BO por ter sido aviltado no exercício da profissão. E ele acatou, infelizmente.

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