Noutro dia, nesse post, fiz a análise de um poema chamado "Namoro a Cavalo" , texto escrito por Álvarez Azevedo. Como alguns amigos vieram dizer que tinha ficado interessante (eufemismo pra besteira de quem não tem muito o que fazer) resolvi repetir a dose. O texto de hoje é um poema intitulado "Boa noite" e foi escrito por Casimiro de Abreu. Sim, o mesmo que escreveu "Meus oito anos", aquele que diz "Ai que saudades que tenho da aurora da minha vida..."e por aí vai. Vamos ao texto.
Boa-noite
Pronto, já começou a besteirada. O cara se despedindo da namorada com um boa noite e insistindo para que ela o deixe ir embora. Insiste dizendo que já é tarde. O duro é que ela está dando um apertão nele e, cá entre nós, devia estar com um baita decote. Ela insiste para que ele fique e pede entre beijos. Pra tentar convencê-lo mais ainda, mostra parte do seio. Essa sabe o que faz, você deve estar pensando, mas isso não é nada.
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito
— Mar de amor onde vagam meus desejos.
Pronto, já começou a besteirada. O cara se despedindo da namorada com um boa noite e insistindo para que ela o deixe ir embora. Insiste dizendo que já é tarde. O duro é que ela está dando um apertão nele e, cá entre nós, devia estar com um baita decote. Ela insiste para que ele fique e pede entre beijos. Pra tentar convencê-lo mais ainda, mostra parte do seio. Essa sabe o que faz, você deve estar pensando, mas isso não é nada.
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
... Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se à estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Calhandra, em Portugal, quer dizer "mulher pouco asseada, mas acho que o poeta aqui quer dizer que ela era semelhante à cotovia, uma ave muito bela. Continuando, o rapaz, que está com os seios da namorada diante de seus olhos, parece praguejar pedindo para ir embora. Diz que já vai amanhecer... espera aí? Das duas uma. Ou o cara passou a madrugada com ela e não deu no couro, ou ela é uma ninfomaníaca. O resto é apenas floreio na estrofe.
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."
E noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua —
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...
Ela deveria ser uma bela morena. Os cabelos negros como a noite. Ele, embriagado, se esquece de que já está amanhecendo, começa a elogiar o corpo dela. Bem, as palavras menos conhecidas não disfarçam o erotismo da cena.
É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as asas do arcanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Finalmente o maluco resolve voltar. Sem resistir aos apelos da nossa amiga ninfomaníaca, volta à "alcova", fecha as cortinas. Imagino que já naquela época existiam os vizinhos de prédio, loucos, tentando pegar algum flagra do casal apaixonado. Nada surpreendente se lembrarmos que lá no início do poema, ela mostrava os peitos pro rapaz na tentativa de convencê-lo a ficar.
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Caramba, se você achou que lá na hora em que ele falava
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa-noite!, formosa Consuelo!...
Sim, sim, sim, oh yes, oh yes. Isso mesmo. Eles conseguiram. Depois disso, resta apenas dormir. Repare que já naquela época era comum o hábito dos outros homens dormirem após o ato sexual. Veja que eu disse "os outros". Yes, Consuelo, yes, Consuelo.
Imagem de algum lugar de que não me lembro.
2 comentários
Adorei a idéia. Ficou muito legal. Definitivamente você tem o maior talento para interpretar poesias. Digo interpretar, pois nos temos atuais, sem muitos estudos e análises, fica quase impossível entender o português de séculos atrás.
ReplyParabéns!
Fraude Urnas Eletrônicas, nome grande, né? Sobre o que disse, um bom dicionário é indispensável para quem deseja ler alguma coisa antiga. Na verdade, um bom dicionário é boa companhia até pra quem não vai ler coisa alguma. Valeu pela visita.
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