Um pleonasmo romântico


Um olhar romântico é sempre mais apurado
Normalmente quem ouve a palavra romance associa rapidamente ao tipo de postura que vê o amor em tudo, que é sentimental e chora ao ouvir um verso de amor. De certa forma isso não está errado, mas o termo romance tem outra origem. Até por volta de 1800, quando um artista queria escrever alguma história, ele o fazia não por um texto em prosa (parágrafos), mas em versos. Foram os autores românticos que começaram a escrever assim, daí o nome para essa estética: Romantismo.
Certo, se romance é o texto escrito em prosa, um texto organizado em parágrafos e escrito no período denominado Romantismo deve ser denominado romance romântico? Seria um pleonasmo? Nada disso, o romance romântico seria uma longa narrativa, em prosa, que gira em torno de um conflito amoroso e que, normalmente, apresenta o seguinte esquema básico:

Inicialmente, temos a caracterização do nosso herói e da nossa heroína. Ambos, pintados com tintas idealizantes, são possuidores de todas as virtudes físicas e morais:

- o homem: lindo, inteligente, honesto, corajoso, fiel e romântico.
- a mulher: linda, atraente, romântica, sensível, fiel e virgem.

O casal logo se apaixona. A união é inevitável, pois foram feitos um para o outro. Tudo indica que serão felizes para sempre, porém... eis que surge um fato inesperado: a proibição dos pais, uma intriga diabólica, um outro homem ou uma outra mulher, etc.
Fico pensando nos enredos das novelas da Globo. Todos iguais, todos repetindo o mesmo esquema dos folhetins, histórias publicadas capítulo por capítulo com o claro objetivo de entreter os leitores da época.
Bom, para desespero dos leitores, o par então se separa, aparentemente de forma irreversível. Normalmente, o fato originário da briga entre os protagonistas foi criado por um personagem que, por razões diversas, se opõe ao protagonista, sendo chamado de antagonista. Esse antagonista facilmente é caracterizado como a verdadeira encarnação do mal; invejoso(a), mau (má), rancoroso(a), às vezes com defeitos físicos. Como não se lembrar da tal Nazaré, personagem da novela "Senhora do destino", a qual está sendo exibida num horário tranquilo, sem crianças em casa, isto é, 14h.
Toda intriga, no entanto, será logo desmascarada, pois a verdade tem de prevalecer e o romance precisa de satisfazer às vontades dos leitores, legítimos representantes da burguesia. Desfeita toda a confusão, o par se reconcilia, agora mais unido do que nunca. E o responsável pela "armação"? Será punido: ou morre, ou é preso, ou fica louco, pois o mal deve ser castigado e o bem, vitorioso. Os apaixonados se casam, pois o amor tem de levar ao casamento. Final feliz.
Poxa, perdoe-me por contar o final da novela. Não sabia que você havia acabado de "puxar cana" e está vendo como se fosse a primeira vez.
Ah, detalhe, como uma possível variação do esquema, em vez de um final feliz, pode haver justamente o contrário, um final trágico, o que não deixa de representar uma estrutura tipicamente romântica, pois a morte acaba sendo uma espécie de união de um amor impossível num plano mais sublime.
Não sei se já falei disso, mas eu seguia no Twitter uma menina a qual não conhecia, mas o que ela escrevia era tão depressivo que, se eu estivesse num dia em que não houvesse motivos para cantar uma linda canção, teria vontade de cometer suicídio. Por hoje é só, pessoal.

2 comentários

o unico problema de romances romanticos é criar a ilusão, nem sempre saudavel, que no final tudo acaba bem. essa falsa sensação que todo amor verdadeiro prevalece, a verdade sempre vence, a justiça sempre é feita.
altas expectativas para altas decepções...
nossa, quase virei a menina do twitter agora =p

Reply

tatianaregis concordo que essa visão de que tudo precisa terminar bem. Interessante pensar que na 2ª fase do Romantismo a morte era a resolução dos problemas. Nesse caso, foge um pouco desse modelo comum às novelas.

Reply

Postar um comentário

Os comentários deste blog são moderados.