Eu sou um Macunaíma


macunaima-poster03Como assim “Onde todos comem todos?” 

Identifico-me com esse personagem de Mário de Andrade. Falei hoje com uma amiga lá no Twitter que não é apenas a cor que me aproxima do “herói sem nenhum caráter”. Não que eu seja tão malandro, preguiçoso, manhoso, matreiro e mentiroso. Eu, diferentemente dele, não tenho irmãos e, por isso, não arrumava encrenca com eles. Arrumei com um vizinho, pois eu era o único que tinha bola na rua de  casa e sempre iam em casa me chamar para que eu emprestasse para eles. Até a irmã dele ia em casa pedir. Eu ia, embora enjoasse quando queria voltar pra casa e ela e as amigas não queriam largar. Cheguei a dar um chute na bunda desse ex-colega quando ele, enciumado por causa da irmã que não largava do meu pé, mandou-me enfiar a bola na bunda. Juro que quase respondi, mas já tinha um domínio próprio invejável nessa época. Macunaíma não, pois desde pequeno sempre arrumava encrenca com os irmãos. Com Jiguê, por exemplo, não era bem uma relação de respeito. Macunaíma sempre levava as esposas do irmão para "brincar".

Casei-me, mas não escolhi a mulher mais importante da sociedade como Macunaíma. Ele, andando pelo mato com os irmãos, encontra Ci, a mãe do mato, e torna-se o Imperador do Mato Virgem quando a toma por esposa.

Diferentemente dele, nunca viajei em busca de algo que fosse importante. Falo isso mesmo sabendo que namorei alguém que morava a 400 e poucos quilômetros de minha casa e que isso durou quatro anos e meio.

Não me envolvi em aventuras como as que meu amigo Macunaíma se envolveu. Ele foi até São Paulo resgatar a pedra que perdera e descobre que aquele que roubou é comedor de gente. Muito malandro, nosso herói mata o comedor de gente, recupera seu tesouro e volta para a Amazônia com os irmãos. Lá, recebe da deusa-sol as duas filhas dela, mas muito sacana, envolve-se com uma estrangeira. A sogra, por vingança, arma uma armadilha para ele. Ela atrai “Macunaíma até um lago onde uma moça de nome Uiara o seduz. O índio acaba por se entregar aos desejos da moça do lago e tem os membros de seu corpo comidos pelos peixes. Recupera a todos, menos a perna e o amuleto muiraquitã, engolidos pelo monstro Ururau.”

Desgostoso, como eu fico às vezes, sem o amuleto e sem os irmãos, é transformado pelo feiticeiro Piauí-Pódole na constelação de Ursa Maior.

Como podem ver, são muitas as semelhanças entre eu e o malandro Macunaíma. Na verdade, ele é o representante máximo do Brasil e de seu povo. Gostem disso ou não.


2 comentários

Macunaíma é o nosso herói e ponto final!

Muito bom o texto. Mário de Andrade iria gostar dele!

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Harley, Macunaíma é o esteriótipo da maioria dos brasileiros. Em vez do "Sou brasileiro e não desisto nunca", a frase que mostra como o povo brasileiro é deveria ser a do personagem de Mário de Andrade: "Ai que preguiça".

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