Nesses bons anos que o Criador permitiu que eu vivesse concedendo-me visão para olhar para os dois lados quando fosse atravessar a rua, descobri que somos todos uns falsos. Tudo bem que a palavra pode ser pesada, mas, no mínimo, eu diria que somos seres políticos. Elogiamos em troca do benefício de termos a pessoa por perto, sonegamos informações que nos mantenham no topo, guardamos até o último segundo um segredo que nos destaque em meio à multidão.
Não, você não é assim, eu sei. Você é sincero, altruísta, guardador dos bons costumes… um verdadeiro filhinho da mamãe.
Certo é que em reuniões de conselho de classe nas escolas, conversas de elevador, papos na sala do cafezinho, DM’s no Twitter, MSN… aí sim é que somos verdadeiros. Quando colocamos a cabeça no travesseiro e não há plateia para nos aplaudir é que somos verdadeiros.
Uma “pequena” história para mostrar como, muitas vezes, somos mais verdadeiros com os outros do que com quem realmente interessa:
- Bom dia, é da recepção? Eu gostaria de falar com alguém que me desse informações sobre um paciente. Queria saber se certa pessoa está melhor ou piorou...- Qual e o nome do paciente?- Chama-se Hermes e está no quarto 302.- Um momentinho, vai transferir a ligação para o setor de enfermagem...- Bom dia, sou a enfermeira Lourdes. O que deseja?- Gostaria de saber as condições clínicas do paciente Hermes do quarto 302, por favor!- Um minuto, vou localizar o médico de plantão.- Aqui é o Dr. Carlos plantonista. Em que posso ajudar?- Olá, doutor. Precisaria que alguém me informasse sobre a saúde do Hermes que está internado há três semanas no quarto 302.- Ok, meu senhor, vou consultar o prontuário do paciente... Um instante só! Hummm! Aqui está: ele se alimentou bem hoje, a pressão arterial e pulso estão estáveis, responde bem à medicação prescrita e vai ser retirado do monitor cardíaco até amanhã. Continuando bem, o médico responsável assinará alta em três dias.- Ahhhh, Graças a Deus! São notícias maravilhosas! Que alegria!- Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém muito próximo, certamente da família!?- Não, sou o próprio Hermes telefonando aqui do 302! É que todo mundo entra e sai deste raio deste quarto e ninguém me diz porcaria nenhuma. Eu só queria saber como estou...
5 comentários
Ah, Rogério, eu não me sinto verdadeiro em conselhos de classe. Alíás quem consegue ser? A vontade que tenho é e detonar certos alunos, mas como sei que isso vai cair em cima de mim, eu sigo o fluxo. À noite no travesseiro eu me sinto mal por fazer parte deste sistema podre.
ReplyNa metade eu já vi chegando.... Mas é uma história legal!
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Compulsivo
Cidão, quando não há presença de alunos, e estão apenas os professores, a não ser que você trabalhe num ninho de cobras, é comum falarmos coisas que não são ditas numa sala dos professores. Tenho meus amigos para conversar e segredar minhas frustrações na educação e aposto que você tem também.
ReplyCompulsivo, é sempre bom receber sua visita por aqui. Confesso que mesmo me esforçando um pouco, não consegui entender o que quis dizer. Mesmo assim, valeu pela visita.
Prezado Bauru, é interessante observar que somos assim mesmo: usamos máscaras para nos tornarmos os personagens diversos que vivemos em cada cenário de nossa vida. Mas o ator é único e sempre há o momento de voltar para casa e se olhar no espelho para ver quem somos de fato. O difícil é reconhecermos essa pessoa... Estamos tão acostumados às máscaras...
ReplyVerdadeiro demais isso!
Reply:)
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