Um prazer quase físico…


Certas ações nos provocam sensações quase físicas. É como a a alegria de ver um filho passando no vestibular. Outras, como a perda de alguém querido podem causar danos por dentro e por fora. Se não me engano foi o rei Davi, numa passagem bíblica quem disse que “por causa do pecados, seus ossos doíam”. Não é difícil acreditar nisso. Fernando Pessoa também falou algo semelhante nesse poema que trago aqui.

Pôr-do-sol

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa…
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…


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